Na última sexta-feira, 26 de abril, um fórum de discussão reuniu representantes dos campi do Instituto Federal do Sul de Minas (IFSULDEMINAS), dos institutos federais do Espírito Santo, de Minas Gerais e Sudeste – MG. Como tema principal, foi abordada a gestão das escolas-fazenda a partir de experiências exitosas do IFSULDEMINAS. O evento seguiu durante toda a manhã e foi sediado pelo Campus Machado, no Espaço Sociocultural da unidade.
O diretor-geral do Campus, professor Carlos Henrique Rodrigues Reinato, deu início ao evento, agradecendo a todos pela presença e disposição em buscar soluções para os desafios do ensino agrícola. Ele explicou que a iniciativa foi do reitor do IFSULDEMINAS, professor Marcelo Bregagnoli, para promover a troca de experiências sobre o tema.
Polo EMBRAPII
A programação do Fórum teve início com a apresentação do Polo EMBRAPII – IFSULDEMINAS – Agroindústria do Café pela diretora de negócios da unidade, professora Dulcimara Carvalho Nannetti, que explicou o funcionamento do Polo, as perspectivas que a unidade oferece, o fomento à pesquisa e inovação no setor cafeeiro e a integração do setor produtivo com a instituição de ensino. Segundo a diretora de negócios, o Polo tem um prazo de três anos para estruturação e mais três anos para consolidação. Durante esse período, são recebidas visitas in-loco da Embrapii para avaliação do trabalho. Ela explicou ainda que um dos maiores desafios é fomentar pesquisa aplicada, trazendo retorno para as empresas e para a sociedade, ao resolver problemas do setor produtivo.
Fundação de Apoio
A segunda apresentação do fórum foi sobre a atuação da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Extensão, Pesquisa, Ensino Profissionalizante e Tecnológico (FADEMA). O diretor da instituição, Luciano Olinto Alves, falou sobre as características das fundações de apoio, do amparo jurídico e das limitações para a atuação, segundo as leis que regulamentam a atividade. Falou também sobre o trabalho desenvolvido pela fundação que, recentemente, foi credenciada para oferecer apoio também ao Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG). Segundo explicou, a Fadema tem expandido sua atuação a outros institutos, porque fundações que atendem universidades, por exemplo, não se interessam em trabalhar com institutos federais, por possuírem projetos de valor menor.
Luciano esclareceu que o apoio da Fadema às instituições ocorre por meio da gestão administrativa e financeiras de projetos de ensino, pesquisa, extensão, inovação e desenvolvimento institucional. Ela atua a partir dos princípios de flexibilização de compras de uma legislação específica, organiza os processos de apoio à execução dos projetos, abrangendo também a alocação de pessoal e prestação de contas. Diversos projetos do Campus Machado estão sob a gestão da Fadema, como os serviços de industrialização, análise sensorial e física do café, que são realizados a partir da infraestrutura laboratorial do campus, com o apoio de pesquisadores, envolvendo estudantes, viabilizando a extensão do ensino e pesquisa.
Ainda segundo o diretor, uma das principais vantagens da fundação para a estrutura de uma escola-fazenda é o incentivo à extensão, como por exemplo, o atendimento à comunidade com atividades realizadas pelos setores produtivos dos campi, que podem utilizar o convênio para a gestão dos projetos.
Cooperativa-Escola
A coordenadora-geral de Extensão do Campus Machado, Michele Marques, foi a terceira a se apresentar. Ela compartilhou um pouco de sua experiência na gestão da Cooperativa Escola dos Alunos da Escola Agrotécnica Federal de Machado, a Coetagri, que completa 40 anos neste ano de 2019. Umas das principais dificuldades apontadas por ela é a ausência de uma legislação específica para o modelo “cooperativa-escola”. De acordo com Michele, a regulamentação é a mesma de uma cooperativa convencional, mas a atividade conta com questões muito específicas.
Assim, a partir de 2011, o Campus iniciou um trabalho para adequação da sua própria cooperativa, que contou com a mudança no processo da comissão recebida pela Coetagri, regularização da questão contábil e financeira, informatização do posto de venda, promoveu convênio para concessão da cantina baseado na Portaria 4.033/2005 e a adequação das relações com os membros da cooperativa, já que sua maioria era constituída por estudantes menores de 18 anos, dentre outras ações que contribuíram para melhorias na gestão.
Um modelo visitado e que serviu de referência para as mudanças propostas foi a Cooperativa do Instituto Federal do Ceará (IFCE) – Campus Crato. Com base nas experiências da unidade, foram discutidos os processos da cooperativa-escola do Campus Machado. Michele explicou que a cooperativa é um projeto pedagógico vinculado à formação curricular dos estudantes, aulas específicas, professor coordenador e alunos envolvidos. Atualmente, a Coetragri envolve 16 projetos pedagógicos, como bovinocultura de corte, laticínios, agroindústria, industrialização do café, suinocultura, abatedouro, culturas anuais, avicultura, cunicultura, apicultura, equinocultura, esporte e lazer e diversos outros.
Outros serviços prestados pela Coetagri envolve o bem-estar dos estudantes com apoio médico e odontológico, comercialização de materiais necessários à vida escolar, venda de tickets de alimentação, apoio ao setor de esportes, patrocínio de eventos, oferta de vagas de estágios, entre outros. Coordenador da Coetagri, o estudante Jonatan de Araújo falou sobre as vantagens da cooperativa escola para os estudantes cooperados e para a comunidade que pode adquirir os produtos vendidos no posto de venda da cooperativa.
Segundo Jonatan, a cooperativa disponibiliza cerca de 40 produtos para a comunidade, tudo produzido nas estruturas de ensino do campus, como laticínios, cafés e carnes, entre outros com qualidade diferenciada em relação ao mercado. “A atual direção da Coetagri, composta por estudantes de oito cursos do campus, tem buscado diversas parcerias para prestação de serviços aos estudantes”, comentou.
Modelo escola-fazenda
O reitor do IFSULDEMINAS, professor Marcelo Bregagnoli, fechou as apresentações do evento. O tema discutido foi a importância da escola-fazenda para o ensino agrícola. “Neste momento em que vivemos, precisamos comprovar que uma escola-fazenda é vantajosa. Por isso, o que vamos fazer aqui são provocações”, comentou.
Bregagnoli mencionou diversos desafios para as instituições de ensino, como viabilizar um ensino realmente integrado, gerir a terceirização, promover as cooperativas-escola e as incubadoras para atuarem com uma visão mais empreendedora, envolvimento dos alunos em diversos processos, entre outros.
Para o reitor, a lei que criou os institutos federais possibilitou um compromisso maior com o desenvolvimento regional e a realização da extensão efetiva. Ele destacou as empresas juniores como forma de trabalho conjunto e de otimização das escolas-fazenda, além dos grupos de estudos que conduzem pesquisa e experimentos.
Para enfrentar as atuais dificuldades orçamentárias, o reitor sugeriu a redução de custos de forma estratégica, o envolvimento de alunos em projetos pedagógicos, a busca por apoio e patrocínios por meio de chamadas públicas, a integração dos setores para otimização de recursos, a prestação de serviços a partir de estruturas de ensino e pesquisa, como os laboratórios, promovendo a extensão. “A integração com a sociedade tem como objetivo justificar o investimento no modelo escola-fazenda”, disse.
Um dos grandes problemas que a administração das escolas lidava era que, de 30 a 40% dos recursos obtidos com as produções das escolas-fazenda ia para o Governo. “Uma articulação do então secretário de Educação, Profissional Tecnológica, Romero Portella, garantiu, por meio de lei, que 100% da arrecadação própria passasse a ficar na instituição. Isso beneficiou institutos e universidades”, comentou.
Um dos exemplos citados por Bregagnoli de ação bem-sucedida a partir do modelo escola-fazenda é a Olimpíada Brasileira de Agropecuária (OBAP). A competição é voltada a alunos de cursos relacionados à área agrícola e busca valorizar técnicas e habilidades práticas aprendidas pelos alunos. Em sua nona edição, a olimpíada tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e possui âmbito internacional, desde 2018.
Para o diretor de Administração e Planejamento do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) – Campus Santa Tereza, Milson Lopes de Oliveira, as dificuldades de gestão são muito grandes neste momento. “Parabenizo a todos que apresentaram os temas aqui, pela maturidade que demonstraram, domínio da linguagem jurídica, cautela em não avançar à legislação e cuidado com a execução dos projetos. Estamos sob o olhar da sociedade o tempo todo, por isso essas experiências compartilhadas são importantes”, comentou.
Texto e Fotos: Ascom / IFSULDEMINAS – Campus Machado